segunda-feira, 16 de setembro de 2013

os beijinhos e a velhice

a minha avó rosa é a minha querida avó materna, bisavó dos meus rapazes, a “bibi rosa” para eles. já tem oitenta e muitos anos e, tendo sido sempre muito mimalha e lamechas, a verdade é que tem razões para o ser, porque a saúde não tem sido muito sua amiga.

atualmente, a avó rosa está diagnosticada, entre outras coisas, com demência, embora o seu comportamento, não sendo o mais ajustado em alguns contextos, acaba por estar controlado (muito graças à paciência e ao amor da minha mãezinha, sua filha e cuidadora).
a bibi rosa gosta muito de todos os seus netos e bisnetos. gosta muito de carinhos, de miminhos e de atenção exclusiva. mas os meus rapazes estão numa idade em que não são muito dados a beijos, amassos ou mimalhices de ordem alguma e fogem-lhes um bocado, como é normal.
ontem estivemos juntos: bisavós, avós, netos e bisnetos. quando nos preparávamos para ir embora, a bibi rosa continuava a cobrar afeto dos meus filhos:
- oh zizinho, tu não gostas de mim? dá-me um beijinho! alice, os teus filhos não gostam de mim? não me deram nenhum beijo hoje! oh, eles não gostam de mim...
-- gostam vó, claro que gostam. é da idade, não são muito beijoqueiros... zizinho despede-te da bibi rosa!
--- não , não gosto de velhice (diz o zizo, já dentro do carro, com cara de mau feitio)
----  oh zizinho, então isso diz-se? então porque é que não gostas de velhinhos? (pergunta a minha  mãe)
--- eu não disse que não gosto de velhinhos avó. eu disse que não gosto da velhice! porque a seguir à velhice vem a morte e eu não gosto nada da morte!
(…)
são conclusões que continuam da dar-me que pensar...

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