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a sua mente já não recorda quem sou, mas o carinho no olhar liga-nos
profundamente e reconhece o amor no coração e a afinidade que temos nas
almas.
- como te chamas minha menina?
- és tão bonita! (saio à minha avó, respondo.)
- tens filhos?
- quantos são?
- onde moras?
- ah, és tu minha menina!
(volta a perguntar-me se tenho filhos).
e olha-me nos olhos com ternura e
abraçamo-nos. hoje, os seus beijinhos foram infinitos e doces, ao ponto de não
me largar, naquele momento de tão intenso amor.
querida avó com nome de flor!
a doença já não a deixa recordar que sou a sua neta mais
velha, que me ajudou a criar com tanta ternura e dedicação, que tanta coisa me ensinou e ensina!
só não lamento que não recorde as agruras da vida difícil que teve,
dos filhos que viu partir em tenra idade ou ainda antes de nascer, das desconsiderações
de um marido duro e possessivo, das privações, das dificuldades financeiras. do
ter de fazer 15 km a pé, madrugadas fora, para ir servir em casas de senhoras
ricas, quando estava na flor dos seus 14 anos. das dores nos ossos de que toda
a vida padeceu.
querida avó que agora está sempre a cantar "oh rosinha, oh rosinha do meio" e "oh rosa arredonda a saia", e anseia por mimos e atenção;
que trata da sua filha, minha mãe, como se de uma bebé se tratasse, mas é ela quem
em bebé se tornou; que se entretém a fazer infinitos cachecóis de tricô para passar
as horas da sua dependência.
mas a minha avó continua a ser a minha avó, a pedra preciosa da familia. aquela senhora
redondinha, de fofos e fartos cabelos de nuvem cinzenta, que adora doces e passeios e
que tem um sorriso fácil nos lábios e abraços generosos.
que felicidade é saber
que ela está cá, para nos lembrar do seu exemplo de vida, que nunca devemos
desistir de viver nem de ver o que de bom temos à nossa volta.
querida avó rosa, querida flor, que hoje, mais uma vez, me encheu a alma de esperança e amor. avó, hoje o seu abraço fez-me sentir o quão infinito o nosso amor pode ser!